Desde a concepção do termo “Desenvolvimento Sustentável”, no documento intitulado Nosso Futuro Comum, publicado em 1987 pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, as empresas, as organizações da sociedade civil e os governos iniciaram um extenso debate. Conhecido como Relatório de Brundtland, incitou questões como “realizar o desenvolvimento que procura satisfazer nossas necessidades atuais, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.
Esses debates quase sempre são focados em: “O que fazer”; “Por que fazer”; e “Como fazer”. Mas muito pouco é abordado sobre “Quem fará” e “Para que fazer”.
Uma das primeiras considerações que me vêm à cabeça é: “Para que os líderes do futuro devem se preocupar com o Desenvolvimento Sustentável, ou melhor, com a Competitividade Sustentável?” A resposta é muito simples: porque serão eles que viverão no futuro.
Infelizmente, ainda não conseguimos conscientizar esta nova geração de líderes sobre seu papel no desenvolvimento e na competitividade sustentável das empresas e organizações. Pois o que eles ainda aprendem, na maioria das escolas de administração, é basicamente desenvolver seus negócios com foco apenas no retorno financeiro que seus empreendimentos devem ter, considerando a competitividade como o grande propulsor do crescimento. E o lucro é seu único botton line.
Dessa maneira, é de fundamental importância que as escolas, as empresas e os governos motivem, engajem e comprometam esta nova geração de líderes a tomarem o conceito de Competitividade Sustentável como a base para um futuro sustentável.
A Competitividade Sustentável é o compromisso das empresas em gerenciar e melhorar o seu resultado Econômico, o seu Impacto Ambiental, as Implicações Sociais e a Salvaguarda Cultural de suas atividades em âmbito empresarial, local, regional e global. Dessa forma, possibilita que pessoas, empresas e nações, agora e no futuro, atinjam um grau de desenvolvimento social, ambiental, econômico e cultural. Podem, assim, dispor ao mesmo tempo do uso sustentável de seus recursos naturais, humanos e financeiros aos quais têm acesso, sem impossibilitar que gerações futuras utilizem esses mesmos recursos; a base do desenvolvimento sustentável.
Neste ponto, trabalho com um grupo de profissionais, que busca conscientizar a nova geração de líderes sobre o seu papel no futuro do Planeta. Como estrutura, utilizamos a evolução sobre os conceitos, partindo da Caridade até a Competitividade Sustentável. Um dos principais programas visa a proporcionar que Líderes do Futuro possam vivenciar o que é desenvolver um negócio competitivo e sustentável.
Assim, há nove anos desenvolvi o “Brazilian Field Seminar – BFS” em parceria com a professora Kristen McCormack da Boston University (BU). É uma experiência ao vivo, no qual, durante duas semanas, 20 alunos do MBA da BU fazem uma viagem pelo Brasil, para conhecer e estudar diferentes perspectivas de como fazer negócios nos três setores (público, privado e social). No BFS, eles visitam, em média, 20 empresas dos três setores, e têm a oportunidade de utilizar seus conhecimentos para avaliar diferentes maneiras de fazer negócios competitivos e sustentáveis. Todo ano o time é muito heterogêneo, com alunos de vários países e interesses. A diversidade permite a esses jovens líderes conviver intensamente com outros tipos de pensamentos e perspectivas.
Acreditamos que, ao dar uma oportunidade de viver outras realidades, culturas e maneiras de fazer negócios, os alunos podem e aprimoram suas próprias formas de pensar. Além de considerar o quadriple botton line, a base da Competitividade Sustentável.
Dentre dezenas de experiências, desde vários trabalhos desenvolvidos pelos jovens na colaboração de projetos sociais, ambientais, culturais e econômicos no Brasil, dois casos foram marcantes. Um aluno de um país do leste europeu, herdeiro de um banco, ao final da viagem ao Brasil, me confidenciou a transformação da sua visão de negócio – já que ele nunca havia entrado em uma favela, sem imaginar a maneira como aqueles empreendedores tocavam seus negócios, em um ambiente tão desfavorável. Dessa maneira, ele decidiu reiniciar sua carreira no banco da família, com uma nova perspectiva no desenvolvimento do negócio, que seria focado não somente no economic bottom line, mas na Competitividade Sustentável.
O segundo foi um aluno que, na época, tinha 49 anos e era capitão da Polícia de Boston, com mais de 200 oficiais sob o seu comando. Apesar de nunca ter feito uma viagem ao exterior, esse policial conheceu uma realidade inédita e, a partir dela, criou um novo approach, mais humano e respeitoso, em relação aos habitantes ilegais da sua área de jurisdição. O que, segundo ele, melhorou muito o relacionamento entre autoridade e sociedade.
Acredito que a educação vivencial seja a melhor forma de oferecer aos futuros líderes a oportunidade de desenvolver seus conhecimentos, contribuir para a formação de seu caráter, sua ética e sua honestidade. Assim, quando assumirem seus papéis à frente de empresas, organizações e governos, eles estenderão seu objetivo para o bem da humanidade, em vez de unicamente visar ao resultado financeiro.