Em momentos de corte de custo, é comum que a empresa substitua gestores experientes por novatos na chefia.
Muitas vezes, o chefe recém-empossado não sabe muito bem o que lhe aguarda. Sua visão pode ser restrita ao que observa em seus superiores – geralmente o lado bom, como benefícios exclusivos, horário flexível e aquela vaguinha bem localizada no estacionamento da empresa.
Mas na vida real ser chefe é bem mais complicado. Novas responsabilidades, pressão por resultados e gerenciamento de equipe pode fazer com que um novato não segure as pontas.
Nesse caso, todo mundo perde: o calouro é destituído e a empresa, além de perder o antigo bom funcionário, precisa gastar tempo e dinheiro para contratar outro gestor.
“O bom líder comanda por influência e deve saber pedir ‘por favor’ para conquistar a confiança de seus subordinados e de seus pares”, afirma Alfredo Behrens, PhD pela Universidade de Cambridge, professor conferencista da Harvard Business School Publishing e da Fundação Instituto Administração (FIA) e sócio da Winvest, consultoria especializada liderança e gestão de relações interculturais nas empresas.
Para Behrens, um bom exemplo de excelência em liderança vem do mundo do carnaval. Por quase dois anos, o professor vivenciou a rotina de trabalho da Mocidade Alegre, escola decacampeã do carnaval de São Paulo.
“Eu queria entender os motivos que levam as pessoas a trabalhar com tanto engajamento numa atividade não remunerada, com condições adversas e, mesmo assim, realizarem um trabalho de qualidade reconhecida em nível mundial, como é o carnaval brasileiro”, afirma o acadêmico.
O resultado da pesquisa nos meandros da Mocidade Alegre foi publicado pela Harvard Business Review.
Nas palavras de Behrens, que ministrará um seminário online gratuito (inscrições aqui) sobre o tema, uma escola de samba pode ensinar as empresas a como entender a cultura de trabalho do brasileiro. Conheça algumas dessas lições.
O BOM LÍDER É AQUELE QUE SABE LIDAR COM GENTE
Behrens afirma que existem diferentes perfis de liderança, como autoritário e democrático. No entanto, na prática das organizações, o melhor perfil é, simplesmente, é daqueles que sabem lidar com as pessoas – e que muitas vezes se adaptam a elas.
Na cultura brasileira, o acadêmico diz que o líder mais valorizado é o paternalista – aquele que troca lealdade por proteção. “Esse tipo de chefe ajuda o funcionário para ganhar respeito”, diz.
Nas palavras de Behrens, o lado bom da liderança paternalista é a capacidade de criar senso de pertencimento na equipe – o que é crucial na cultura brasileira. “Se o funcionário vê a empresa como a uma segunda família, ele fará de tudo para o bem da organização.”
Numa organização paternalista, como as escolas de samba, há também a reciclagem de funcionários. Por exemplo, uma passista quando envelhece pode atuar em outros setores da escola onde não seja necessária tanta vitalidade. Na empresa, pode acontecer a mesma coisa. Se um funcionário não está mais no auge de sua atividade, ele pode ser alocado em outro departamento onde ainda será útil.
Nesse caso, a demissão pode ser uma saída mais racional? Sim, pode. Mas há uma importante ressalva: a limitação de engajamento. Os funcionários podem pensar que não compensa se esforçar pela empresa sabendo que com o passar dos anos serão simplesmente descartados.
O BOM LÍDER NEM SEMPRE É QUEM MOSTRA MAIS TRABALHO
Behrens afirma que o formato de seleção de pessoal mais comum é o estilo americano – um gestor seleciona os candidatos conforme suas competências técnicas e habilidades, ou pelo menos as competências que o candidato diz possuir.
Na cultura brasileira, esse método apresenta um problema. “Apenas 7% dos brasileiros confiam em quem não conhece”, afirma Behrens. “Esse índice sobre para 35% entre os americanos e 60% para os chineses.”
O reflexo nas organizações nacionais é que um líder desconhecido tem mais chances de não ser aceito – e apoiado – pelos funcionários.
Uma saída é recrutar líderes por indicação – estratégia comum nas escolas de samba. De acordo com Behrens, um funcionário só vai querer indicar alguém se realmente gostar da empresa – dificilmente indicará um colega para uma furada. Ao mesmo tempo, ninguém quer indicar alguém ruim para a companhia que gosta – pois, se a indicação der errado, o funcionário poderá ser sentir responsabilizado.
“Na seleção por indicação, os candidatos são pré-selecionados por quem sela pela empresa”, afirma Behrens.
AUTORITÁRIOS E COMPETITIVOS NÃO SÃO A MELHOR OPÇÃO
Ao ser promovido a chefe, é comum que o funcionário se sinta inseguro devido às novas responsabilidades. Ele também terá que lidar com muitas variáveis dentro da equipe que coordena: um funcionário que está chateado por não ter sido ele o promovido, outro que só tem lealdade pelo antigo chefe e a saída de bons empregados que aconteceu durante a renovação de pessoal.
Com a insegurança crescente, o novo líder pode adotar uma postura autoritária com o objetivo de ganhar o respeito do pessoal.
“No Brasil isso não funciona”, afirma Behrens. “É bem provável que os subordinados fiquem desmotivados e até façam corpo mole em resposta ao estilo mandão do chefe – o que causa uma bola de neve de autoritarismo e frustração.”
Há algumas soluções para evitar esse conflito. A primeira começa na seleção do líder. Além de adotar a seleção por indicação, a organização também pode escolher ascender aquele funcionário que tenha maior capacidade de articulação, que nem sempre é aquele que mostra mais trabalho.
Muitas vezes, funcionários carreiristas, que vivem se vangloriando de sua atuação para ganhar preferência numa promoção, acabam acumulando desafetos – e, quando se tornam chefes, dificilmente recebem apoio da equipe.
Há companhias de sucesso que são conhecidas pelo alto nível de competição interna. No entanto, essas empresas operam sob um mantra parecido com o de bancos de investimentos, em que o corte de custo, máxima eficiência e busca por lucro pode ser mais valorizado do que as relações interpessoais. De acordo com o professor, essas empresas não são boas escolas de ambientes harmoniosos.
“Um bom líder é quem entrega resultados para a empresa ao mesmo tempo em que é justo e transparente com a sua equipe", afirma Behrens.