Nada mais desalentador para o empresário do que não conseguir prever os rumos da economia e, como consequência, dos negócios nem para o curto prazo.
Pior ainda, quando os indicadores e as projeções de especialistas do mercado pioram mês a mês, como aconteceu no último ano e meio.
Mas há uma notícia encorajadora. A definição do afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff e a entrada de nova equipe econômica no governo Temer levam economistas a enxergar um cenário mais alentador para o país no ano que vem, com crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de até 2%.
A esperada retomada da economia em 2017 foi destacada em boletins divulgados por bancos. Um dos mais otimistas é o Santander, um dos mais otimistas, que prevê crescimento de 2% para o PIB, 0,9% para o consumo das famílias e de 6% para os investimentos.
Para este ano, as projeções são negativas. Para o Santander, o PIB terá queda de 3,7%, assim como o consumo das famílias, 4,4%, e a formação bruta de capital fixo (investimentos) 9%. No quadro a seguir, previsões de outras instituições para 2017.
As condições macroeconômicas não mudaram e não devem mudar no curto prazo. Indicadores de desemprego, as taxas de juros e a inflação não são nada favoráveis ao consumo.
O que levou à troca do sinal de ‘menos’ para o de ‘mais’ nas projeções para 2017 é a crença de que o governo vai trabalhar para equilibrar as contas públicas e realizar as reformas de que o país precisa, como a trabalhista e a previdenciária.
A recuperação da economia já começou, só que ainda não aparece nos dados do PIB (Produto Interno Bruto), de acordo com Luciano Sobral, economista do Santander.
Quem puxa essa recuperação? Indústrias exportadoras, beneficiadas pela taxa de câmbio, principalmente as fabricantes de calçados e de máquinas, intensivas em mão de obra.
Se a taxa de juros cair neste final de ano e ao longo do ano que vem, como parece indicar o Banco Central (BC), diz Sobral, as famílias terão também mais condição de se endividar, favorecendo o consumo.
O que causava a queda livre dos indicadores desde o ano passado até agora, na avaliação de Sobral, era o temor de que o país perdesse a capacidade de pagar as suas dívidas.
“Com a mudança da equipe econômica mudou a postura do governo para enfrentar os problemas. O diagnóstico agora é que, para o país voltar a crescer, será necessário resolver o problema fiscal, e essa constatação encontra ressonância no mercado.”
INFLAÇÃO
As projeções para 2017 também são mais otimistas porque a inflaçãotende a perder força.
“O IPCA deve fechar o ano em 7,5% e, no próximo ano, 5,2%. Isso deve contribuir para manter a renda do consumidor”, diz Fábio Romão, economista da LCA Consultores.
A renda real do trabalhador caiu 3,7% no ano passado, de acordo com a PME (Pesquisa Mensal de Emprego) do IBGE e a expectativa da LCA é de uma queda real de mais 2,2% neste ano.
Para 2017, a projeção da consultoria para a renda real já é positiva – um crescimento de 0,2%. Não é um número para se comemorar, mas já é um ganho a renda parar de cair, após dois anos de queda.
É inegável que as mudanças na seara política melhoraram as expectativas e o nível de confiança de parte da sociedade e dos empresários.
É preciso considerar também, na avaliação de Romão, que a indústria já demitiu muito, ajustou estoques e chega um momento em que a retomada se faz necessária.
Em junho deste ano, a indústria fechou 65,8 mil postos de trabalho e, em julho, 15 mil vagas, de acordo com levantamento do Caged(Cadastro Geral de Emprego e Desemprego), do Ministério do Trabalho.
Entre 12 setores, porém, quatro já contrataram mais do que demitiram em julho. São eles: químico e farmacêutico, alimentos e bebidas, têxtil e vestuário e calçados. “É um sinal de que o mercado está começando a reagir”, diz Romão.
DÍVIDA DAS FAMÍLIAS
O que pode segurar o crescimento da economia no ano que vem é o endividamento das famílias e caso o governo não consiga avançar nas ações para equilibrar as contas públicas.
“É necessário uma sinalização concreta de mudanças para que as melhoras nas projeções continuem em voga”, diz Romão.
O endividamento das famílias já diminuiu e deve continuar diminuindo, de acordo com Fábio Silveira, economista da MacroSector.
Em agosto do ano passado, esse endividamento com o sistema financeiro era de 46% em relação à renda acumulada em 12 meses, de acordo com o Banco Central (BC). Em junho deste ano, o percentual era de 43,7%
E não poderia ser diferente. Com o emprego e a renda em queda, na avaliação de Silveira, mesmo quem está empregado fica com medo de comprar parcelado, o que reduz a demanda por crédito.
“Somente a partir do segundo semestre do ano que vem, com a eventual queda de juros, as famílias devem voltar a comprar mais a prazo”, afirma.
O endividamento em si, diz ele, não é ruim, desde que o consumidor tenha capacidade financeira de arcar com as prestações.
O rendimento médio real, na avaliação de Silveira, deve continuar em declínio até meados do ano que vem, quando começa a se estabilizar.
No primeiro semestre de 2015, passava de R$ 2 mil, de acordo com a PNAD/IBGE. Em julho deste ano estava em R$ 1.934.
A taxa de desemprego, de 11,3% em junho deste ano, também continua em alta até meados do segundo trimestre de 2017, de acordo com Silveira. “O que vai mudar o panorama deste cenário é a redução dos juros.”
JUROS E CÂMBIO
Considerando que o governo vai conseguir fazer algum ajuste para melhorar as contas públicas, existe dos prováveis cenários para a economia em 2017, de acordo com Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
No cenário mais conservador, a taxa básica de juros, a Selic, cai de 14,25% para 12,5% ou 12,75%, e a taxa de câmbio fica mais próxima de R$ 3 do que de R$ 4.
Para a indústria e o comércio, esse cenário não muda muito a situação macroeconômica do país, e o PIB tende a crescer perto de 1% em 2017.
No segundo cenário a taxa de juros terá queda de cerca de 10% até o final do ano que vem e o câmbio ficará mais próximo de R$ 4 do que de R$ 3.
Nesta condição, na análise de Alfieri, a produção da indústria crescerá graças às possibilidades de exportação.
Haverá crescimento nas vendas do varejo devido ao incentivo de compras pareceladas. Neste caso, estima Alfieri, o PIB pode crescer até perto de 3%.
“Por enquanto, pairam muitas dúvidas em relação a esses dois cenários", afirma ele. "O que pode ocorrer também é uma mistura dos dois. Vale lembrar que o Fed (banco central norteamericano) pode elevar os juros e, neste caso, pode haver fuga de capital do Brasil para os Estados Unidos”, diz.
Se isso ocorrer, o governo poderá manter a taxa de juros mais elevada e controlar a taxa de câmbio. “O que não pode acontecer é o governo não fazer nada, as reformas necessárias. Se não ocorrer, vai explodir tudo por aqui”, diz Alfieri.