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Dia do Empreendedorismo Feminino: incentivo e oportunidades que transformam

Incentivo à liderança feminina, equidade de gênero e inclusão de diversidade é o que falta para aumentar os 43% de empreendedoras presentes no Brasil

Neste domingo (19), é comemorado o Dia Global do Empreendedorismo Feminino. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014, e abrange 153 países, entre eles o Brasil, a fim de potencializar as oportunidades das mulheres no mercado de trabalho e nos cargos de chefia de áreas ocupadas atualmente majoritariamente por homens, como economia, saúde, política e educação.

De acordo com a pesquisa “Empreendedoras e Seus Negócios”, elaborada pela Rede Mulher Empreendedora (RME), as mulheres representam 43% dos empreendedores brasileiros, o que evidencia o crescimento do empreendedorismo feminino , a independência financeira e o impacto das atividades geradas por elas na economia nacional.

Perfil

Tendo muitas começado a empreender por necessidade, a maior parte atua como MEI ou como sócias de micro e pequenas empresas. Outro levantamento, intitulado “Quem São Elas”, lançado no ano passado pela RME, apontou que 55% das empreendedoras brasileiras têm filhos, e que dentre essa porcentagem, 75% decidiram adentrar o mundo dos negócios após a maternidade.

Cerca de 79% delas possuem ensino superior completo, com média de idade de 39 anos. 61% são casadas, 44% são chefes de família e 39% contam com o auxilio de alguém no negócio. Um problema detectado pelo estudo é que mais da metade delas buscam por qualidade de vida, porém 39% trabalham mais de nove horas por dia.

Racismo estrutural e regularização

Outro dado mostrado é a diferença no percentual de empreendedoras não brancas presentes nas abrangentes categorias de negócios. Elas representam 32% do total em empresas informais e MEIs, enquanto que em microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPPs) este número cai para 20%, o que destaca que empresas maiores são geralmente geridas por mulheres brancas.

As informações condizem com o Global Entrepreneurship Monitor de 2015, feito pelo Sebrae, o qual 51% dos empreendedores brasileiros, tanto homens quanto mulheres, são negros, entretanto, apenas 29% deles chegaram a empregar, ao menos, uma pessoa no período.

Ambos os estudos demostram alguns fatores impulsionados pelo racismo estrutural que permeia a sociedade, gerando ainda mais dificuldades no que se diz respeito a inserção no mercado de trabalho. Um exemplo disso é o acesso a crédito, que segundo o chefe do escritório Small Business Administration (SBA), Eugene Cornelius Junior, é três vezes mais negado a empresários negros do que a brancos, no Brasil.

A regularização de empreendimentos também é outro fator levantado, com 30% dos negócios com até três anos de funcionamento categorizados como informais. A maioria das mulheres relata que a falta de dinheiro é uma das principais razões para tal situação, além de 43% alegarem manter o negócio na informalidade, uma vez que o pagamento de impostos pode inviabilizar o empreendimento. O acesso ao credito foi citado como uma dificuldade que atrapalha a continuidade dos negócios.

Conhecimento e incentivo

A fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME), Ana Fontes conta que abriu o seu primeiro negócio em 2009, quando empreender não era tão popular como é atualmente, e que por isso, se deparou com muitos obstáculos, que serviram como um alerta, para que pensasse que muitas outras também se encontravam naquela mesma situação.

Selecionada para participar do programa de capacitação da Goldman Sachs e da Fundação Getulio Vargas (FGV), "10.000 mulheres", Ana sentiu ainda mais vontade de compartilhar experiências e conhecimento com outras mulheres, o que a fez criar a RME. Hoje, compactuando com quase 300 mil mulheres de todas as regiões brasileiras, a instituição oferece eventos, networking, capacitação profissional e marketplace para negócios entre as empreendedoras.

“Empreender é muito solitário e, para as mulheres, ainda mais. Nós acabamos assumindo todos os outros papéis e complicamos um pouco mais a nossa vida. Se não tivermos o apoio e a colaboração de outras empreendedoras, fica bem difícil empreender. Esses movimentos são ótimos para mulheres trocarem experiências com quem está passando pela mesma fase, fazer parcerias e aumentar o networking”, afirma.

Quero empreender, e agora?

O crescimento de 14% na participação das mulheres no meio empreendedor nos últimos 14 anos, tem servido como incentivo para que muitas queiram se arriscar com a criação de um empreendimento próprio.

Ana ressalta que muitos empecilhos como o acesso ao crédito, definição de segmento de negócio, localização de programas de capacitação de apoio para a gestão com custos acessíveis e a busca de equilíbrio entre atividades pessoais, familiares e profissionais serão encontradas no caminho, porém que é de extrema importância estabelecer alguns parâmetros para que a ideia saia do papel.

Entre as premissas destacadas pela empresária, as principais são:

  1. Conhecer o universo empreendedor;
  2. Acompanhar páginas de entidades de apoio;
  3. Participar de eventos e adquirir conhecimento neste universo;
  4. Procurar um mentor, alguém com mais experiência que pode sanar dúvidas;
  5. Identificar suas habilidades para pensar na oportunidade de negócios.

Aqui, é necessário considerar que o seu negócio tem que resolver problemas reais da sociedade. Para Ana, testar o modelo é fundamental. Somente pesquisa de mercado não é o suficiente, é importante executar o funcionamento um protótipo com clientes reais, investindo o mínimo possível nesta fase de teste.

“Espero que nos próximos anos, com o tema do empreendedorismo feminino em debate, sejam criadas políticas públicas de apoio a mulheres que querem empreender. Essa é uma das missões do nosso recém-criado Instituto Rede Mulher Empreendedora. Também esperamos que as empresas contemplem políticas de incentivo à liderança feminina, equidade de gênero e inclusão de diversidade. É o que precisamos”, conclui.