O ministro da Economia, Paulo Guedes, entregou ontem ao Congresso a primeira de quatro partes da reforma tributária pretendida pelo governo Jair Bolsonaro.
O fatiamento das propostas confirma uma tendência que já vinha sendo antecipada pelo campo governista. Com isso, o governo pretende adiar embates sobre temas mais polêmicos, como é o caso da “nova CPMF”.
Segundo o secretário especial da Receita Federal, José Tostes, Guedes pretende entregar as três partes restantes da reforma tributária ao Congresso no decorrer dos próximos 30 dias.
Com a apresentação da proposta, o governo finalmente entra no debate da reforma tributária, uma vez que duas iniciativas caminhavam paralelamente havia meses no Congresso – uma no Senado e outra na Câmara dos Deputados –, ambas com o objetivo de simplificar as regras tributárias no Brasil.
Uma Comissão Mista do Congresso chegou a ser criada no início do ano, mas os trabalhos foram prejudicados pela pandemia do novo coronavírus.
O trecho da reforma tributária apresentado ontem por Guedes unifica o PIS (Programa de Integração Social) e a Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), criando assim a CBS (Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços).
Caso a medida seja aprovada pelo Congresso, a unificação do PIS e da Cofins resultará na CBS. A CBS teria os moldes de um imposto sobre valor agregado (IVA).
O conceito do IVA é a tributação do valor acrescentado às transações feitas por um contribuinte. Em princípio, portanto, a CBS se estabelecerá como um imposto em cascata. Impostos em cascata atingem todas as etapas do circuito econômico, da produção ao varejo.
A criação da CBS, no entanto, é limitada aos tributos federais sobre consumo. Os impostos municipais e estaduais sobre consumo e serviços – o ISS e o ICMS, respectivamente – não está incluídos na proposta.
Uma eventual inclusão desses impostos na reforma dependeria de um esforço mais amplo e complicado cujo ônus o governo federal já deu demonstrações públicas de que pretende terceirizar para o Congresso.
De acordo com as simulações do Ministério da Economia, a alíquota do CBS deve girar em algo em torno de 11% a 12%.
Com isso, contrariando as grandes expectativas que cercam o tema, o benefício proporcionado pela medida apresentada ontem limita-se à simplificação tributária.
A proposta não reduz a carga de impostos nem elimina a cobrança em cascata.
Entretanto, a avaliação de outros aspectos da reforma tributária pretendida pelo governo ainda depende da forma como esses pontos serão propostos.
Agora que apresentou sua proposta sobre o estabelecimento de um IVA, o governo prepara-se para, aos poucos, entrar nos temas mais espinhosos da reforma tributária.
De acordo as declarações de Tostes, a segunda parte da reforma envolverá outra simplificação, a do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Já a terceira parte deve conter mudanças ao Imposto de Renda para Pessoa Jurídica (IRPJ) e estabelecer a tributação de dividendos.
Ainda segundo Tostes, a quarta e última parte da reforma tributária proporá o fim da contribuição patronal de 20% sobre a folha de salários e a criação da “nova CPMF”.
Mais detalhes, entretanto, ainda dependem da forma como essas medidas serão propostas. Sabe-se, por exemplo, que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é um opositor ferrenho de qualquer medida que se assemelhe à antiga CPMF.